quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

POMBA BRANCA

As verdades que ocultas
são como pombas brancas
imaculadas,
nas minhas mãos.
Pequenos pontos referenciais
do teu corpo abandonado
na estrada que é a minha cama.
A ausência pesada do teu coração
e a chama fria da tua respiração
no meu pescoço que não queres
e não anseias.
E que é
dolorosamente teu.
O negro opaco das paredes
que aprisionam os teus braços
e condenam as tuas lágrimas
ao fio condutor das minhas
pernas.
O rio sereno que apaga as pegadas suaves
que deixas nas noites em que
me tomas e me esqueces.
O vento fustigante que
grita lá fora as verdades incompreensíveis
da tua aparência serenamente
quedada no final da existência.
Amanhã,
dizes-me tu,
já não irás acordar
e as tuas pálpebras
fechadas vão cruzar
os sonhos de todas as mulheres
que amaste.
Deleitas-te com a única
maçã que os teus lábios
provaram,
a verdade inabalável
da árvore vital.
Sabes-me.
Tocas-me.
Escondes os papéis com os quais tapas o rosto
todas as noites que não estás aqui e que percorre
so corpo nu de todas as mulheres
que amaste.
Proteges-me,
pensas tu.
Proteges-me da tua ausência,
do teu rosto branco,
da barba hirsuta,
dos dedos esguios e assassinos.
Degustas as palavras
que um dia escreveste
para todas as mulheres que amaste.
A noite é um maravilhoso caleidoscópio,
dizes-me.
A noite é um manto que cobre
os erros da humanidade.
Deitas-te no chão.
Páras de respirar.
Deixas de existir.
Morres-me.
Morres.
Morres ao lamentar
todas as tuas ausências.
Deitado.
Finalizas a tua existência
sem poemas,
nem palavras,
nem pombas brancas.
Nunca me irás contar as tuas verdades.
Morreram contigo.
Morreram contigo,
quedo,
aqui comigo.
Negro.
Coberto pelo manto materno da noite,
o ventre cansado
e imortal da lua cúmplice
dos teus desvarios febris.
Morres-me.
@GUIRIGUITA@

1 comentário:

Flortarina disse...

Simplesmente...
LINDO!

Beijo

K.